quinta-feira, 22 de maio de 2008

Rodoviários prometem greve para a próxima semana

Guilherme Lopes, do A Tarde On Line
O Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário do Estado da Bahia aprovou, na tarde desta quarta-feira, 21, a deflagração de greve da categoria a partir da meia noite da próxima quarta, dia 28, caso fracassem as duas rodadas de negociação marcadas para esta segunda, 26, e terça, 27. Para Manuel Machado, presidente do sindicato, esta seria a única forma encontrada pela categoria para pressionar o patronato a ceder às reivindicações dos trabalhadores.

Os rodoviários querem um aumento de 12,84% em seus vencimentos, além de outras melhorias em suas condições de trabalho, como o fornecimento de 30 tickets refeição por mês e plano de saúde sem custo para o trabalhador. De acordo com o sindicato da categoria, o salário-base do motorista de ônibus em Salvador hoje é de R$ 1.062 e dos cobradores, R$ 660.

A decisão foi aprovada em referendo realizado em plena Avenida ACM, na pista sentido Iguatemi, próximo à sede do DETRAN. O local foi o escolhido pelo sindicato para ser o final de uma passeata que começou por volta das 16 horas nas Sete Portas e levou em torno de mil trabalhadores às ruas.

Por causa da manifestação, todas as pistas da avenida, sentido Iguatemi, ficaram fechadas por cerca de uma hora. O congestionamento se estendeu pelas avenidas ACM e Bonocô, rótula do Abacaxi e Sete Portas.

GREVE – Para o presidente do sindicato, Manuel Machado, a greve será inevitável caso não seja fechado um acordo com os representantes das empresas de transporte no começo da próxima semana.

Na próxima segunda-feira, 26, o sindicato se reúne com representantes da Associação de Empresas de Transporte Coletivo Rodoviário do Estado da Bahia (Abemtro), que abrange as empresas que se ocupam do transporte intermunicipal na Região Metropolitana de Salvador. Na terça, é a vez de sentar à mesa com o Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros de Salvador (Setps). Esta será a 12ª rodada de negociação em uma campanha salarial que já se estende por 50 dias.

Machado afirma que o a intenção do sindicato não é prejudicar os usuários de transporte público da capital e região metropolitana, mesmo com a possibilidade de greve. “A população sofre junto com a gente nos ônibus. Sofrem com os assaltos, com o desconforto. Queremos causar o mínimo transtorno possível ao usuário”, diz.

Ele explica que o sindicato entrou com um pedido no Ministério Público do Trabalho nesta semana para que, caso a paralisação seja deflagrada, o transporte coletivo da capital funcione com 100% da frota nas ruas e catraca livre. “Assim o prejudicado é o patrão, não o usuário”, argumenta. A resposta do MPT deve chegar apenas na próxima semana.

O sindicalista afirma, também, que a greve “não pretende ser política”. “Nós não estamos querendo prejudicar o prefeito nem ninguém. Queremos que nossas reivindicações sejam atendidas, somente”.

TRABALHADORES – Para Maria de Lourdes Oliveira, 55 anos, esposa do motorista Djalma Santos, a passeata e as reivindicações dos rodoviários são justas. “Eles arriscam a vida todos os dias no trabalho por causa da falta de segurança. Merecem ser bem remunerados”, argumenta, enquanto carrega uma faixa ao lado do marido durante a passeata nas Sete Portas.

O marido, que está há 18 anos na profissão, acrescenta, “Nós vamos trabalhar só para ganhar dinheiro para o patrão? Nossa situação piorou muito nos últimos anos”, defende.

Janete Cruz, rodoviária há sete anos, concorda com a colocação de seu colega. “Eu saio de casa todo dia às 4 e meia da manhã. Vou para a rua com toda essa insegurança. Fico pouco com meus filhos”. Ela participou da manifestação ao lado dos dois filhos pequenos: Adriele, 10 anos, e Tiago, 4. “Não tinha com quem deixá-los, mas não podia deixar de exigir meus direitos”, justifica.

POPULAÇÃO – Entre os usuários do transporte público da capital, há quem defenda o direito de reivindicação exercido pelos rodoviários. Mas sobram crítica à forma utilizada pela categoria para fazer valer seus direitos.

Para o auxiliar de lavanderia Claudio da Cruz, 27, a passeata desta quarta-feira “foi um desrespeito enorme aos usuários”. Claudio afirmou ter ficado uma hora esperando seu transporte na Sete Portas. “Estou aguardando a boa vontade deles [dos rodoviários] para poder ir pra casa”, reclama.

O engenheiro Rafael Carvalho concorda com as reivindicações, mas acredita que os trabalhadores “fazem o protesto em hora errada. Teria de ser pela manhã, porque agora esta hora todo mundo está cansado e quer voltar pra casa, é mais difícil entender”. Rafael estava preso no engarrafamento formado nas proximidades da Rótula do Abacaxi, por volta de cinco e meia da tarde.

Antônio Carlos Santos, comerciante nas Sete Portas, acredita que “os trabalhadores estão no direito deles. Se não há como negociar com o patrão, infelizmente, o jeito é esse mesmo”. Ele disse esperar que a categoria chegasse a um acordo, já que “uma greve prejudica eles, prejudica os usuários, ninguém ganha nada”, acredita.

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