terça-feira, 27 de maio de 2008

Preço do carro popular sobe até 32% em três anos

Apesar da elevação, a procura continua crescendo em Salvador, onde as filas de espera chegam a 60 dias
Graciela Alvarez
Quem está pretendendo comprar um carro zero-quilômetro já deve ter percebido que os preços nunca estiveram tão caros no Brasil. A situação é ainda mais notória quando o assunto é carro popular. Em tempos em que a produção e as vendas de automóveis no mercado interno batem recordes a cada mês, um modelo básico com motor 1.0 não sai por menos de R$23.480. Em apenas três anos, o preço dos veículos populares sofreu uma majoração de até 32%. De acordo com a pesquisa da Agência Autoinforme, somente em abril passado, o carro zero ficou 1,03% mais caro comparado com março. Apesar das altas de preços, a demanda não pára de crescer, estimulada pela facilidade de acesso ao crédito e prazos alongados de pagamentos. Diante de tamanha procura, os consumidores têm que esperar até 60 dias na fila para adquirir um veículo novo na capital baiana.

Dentre os carros populares nacionais, o Celta, da Chevrolet, foi o que apresentou maior alta no período. Há três anos era possível comprar o modelo mais barato por R$18.990. Hoje, o mesmo carro _ o Celta Life (motor 1.0 Flexpower _ bicombustível), somente com duas portas e pintura sólida (preto, branco ou vermelho) _ não sai por menos de R$24.990, um acréscimo de 31,59%. Para a vendedora da Tratocar, Vera Lúcia, que há 17 anos trabalha comercializando veículos, a diferença se justifica pelas mudanças na economia brasileira nos últimos anos. “Algumas matérias-primas como aço e petróleo subiram além da inflação. E quando o custo sobe, o preço do carro zero sobe também”, justifica ela.

Já o automóvel popular da Volkswagen, o Gol, teve uma alta de 29,01% em três anos. “Hoje, o Gol City básico (duas portas e pintura sólida) custa R$25.790, mas ele já chegou a ser vendido por R$19.990”, revela o supervisor de vendas da Sanave, Fúlvio Santana. Para ele, além do aumento no custo da matéria-prima, a facilidade de acesso ao crédito também vem influenciando no acréscimo dos preços dos carros novos populares. “Com tantas facilidades, a demanda acaba subindo muito e, conseqüentemente, o preço dos veículos também”, diz o dirigente, informando que a concessionária vende entre 150 e 200 unidades do Gol por mês. Segundo ele, do ano passado para cá houve um aumento de 30% nas vendas da concessionária.

Com o carro-chefe da Ford também não foi diferente. Em dezembro do ano passado, o Ford Ka podia ser adquirido por R$19.990. Hoje, com um novo design lançado a pouco mais de dois meses, o Ford Ka mais barato do mercado custa R$25.690, uma elevação de 28,51%. Apesar de popular, ele já sai de fábrica com alguns opcionais como trava elétrica, alarme, fiação para som, antena e pára-choque da mesma cor. O vendedor da Indiana, Luige Oliveira, prefere atribuir o alto preço à quantidade de impostos que incidem sobre um carro novo no Brasil, que, segundo ele, chega a quase 50%. “Outro fator é a alta demanda. O Ka quando foi lançado chegou a ter uma fila de espera de 128 pessoas”, pontua. Ele diz que essa fila hoje diminui, mas o prazo para entrega do novo Ford Ka pode chegar até 60 dias.

Mesmo com o preço elevado, o Uno Mille Fire da Fiat ainda é o carro mais barato do mercado interno. O modelo básico custa R$23.480, enquanto que, em 2005, ele chegou a ser vendido por R$21 mil, representando uma majoração de 11,8%. “Nossa economia é baseada no dólar, mas o mais engraçado é que tudo sobe quando ele sobe, mas nada desce quando ele está em baixa”, avalia o supervisor de vendas de carros novos da Cresauto, Robeclides Cardoso. Ele afirma que, embora o Uno Mille básico duas portas tenha o preço mais em conta, o Uno quatro portas e com ar-condicionado é mais vendido. “Como mais de 85% dos carros novos são comprados através de financiamento, as pessoas acabam embutindo alguns opcionais e diluindo esse custo adicional nas parcelas”, explica Oliveira.


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