quinta-feira, 29 de maio de 2008

Clarissa Borges, do A TARDE On Line

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O Taboão não é mais o mesmo. A ladeira que testemunhou a Revolta dos Malês e as peripécias e a morte de Quincas Berro D’ Água, célebre personagem das páginas do escritor Jorge Amado, vive dias tristes. Casarões em situação precária, pavimentação destruída, população convivendo com assaltantes e traficantes e nem sinal de uma revitalização há tempos prometida pelos poderes públicos. O retrato é dos próprios moradores e comerciantes, para quem abandono é a palavra que melhor descreve a situação.

A conseqüência da falta de cuidados é que o antigo centro comercial – localizado no centro Histórico de Salvador, tombado como patrimônio da humanidade – já não ostenta a mesma movimentação intensa dos bons tempos. “Aqui, a gente fica entregue às baratas”, resume Jorge Luis Santana, proprietário da sapataria Rápido Bahiano, que funciona no Taboão desde 1942 e, segundo ele, é a mais antiga da área. Ainda disso, a região se mantém como referência em artigos para estofamentos, couro, tapeçaria, tecidos colchões e sapatarias.

Há mais de 47 anos trabalhando no local com o ofício legado pelo pai, o sapateiro aponta a falta de segurança como o principal problema da região. Desolado, ele conta que assiste, todos os dias, à contínua degradação da Ladeira do Taboão, tomada por marginais. A falta de iluminação é outro problema que assola os que persistem em manter comércio e residências no local. “O pior é que a Prefeitura coloca as lâmpadas e eles roubam”, revela indignado. O comerciante diz que também é vítima do vandalismo. “Do meu telhado, arrancaram o zinco”, denuncia.

O dono de uma casa de carimbos e cartuchos para impressoras Jorge Souza, concorda. “Aqui a gente convive com os ladrões, eles assaltam aqui e correm aí por cima, ninguém pega”, diz, apontando um dos casarões da ladeira, que dá acesso a um matagal. Souza explica que, com a má fama do local, precisa driblar os problemas para não perder clientes. “Às vezes por telefone o cliente fica sabendo que a loja fica no Taboão e desiste, aí eu digo que pode vir durante o dia, o perigo é maior à noite”, revela.

A funcionária da Associação dos Comerciantes do Taboão, Cláudia Silva, endossa as queixas e enumera outros dissabores dos lojistas. Alem da insegurança, o calçamento danificado e a limpeza precária também afastam os compradores, acredita. “Aqui não tem muito assalto às lojas, mas na rua, a gente vê sempre, principalmente aos turistas”, conta.

Prejuízos - Para o sapateiro e artesão de couro Dílson Ferreira , que mantém sua oficina há 36 anos no mesmo ponto, a situação nunca esteve tão ruim. Segundo ele, o movimento já caiu quase 50% nos últimos dois anos. “Se você olhar bem, vai ver que quanto mais vai descendo, a coisa vai ficando pior”, destaca.

Moradora do Taboão há 40 anos, a aposentada Lucília Conceição diz que o problema com as ruínas não é só estético. Elas favorecem a marginalidade. “Os gringos passam e eles levam tudo, depois fogem pela escada”, aponta. Com tristeza, ela lamenta o abandono. “Policiamento aqui, ninguém vê”. Além disso, teme os desabamentos. “Há pouco tempo, desabou um portão de ferro e um muro”, lembra.

Após contato da reportagem do A TARDE On Line, o titular da Superintendência de Manutenção e Conservação da Cidade (Sumac), Luciano Valladares, prometeu, por meio da assessoria de imprensa do órgão, enviar uma equipe ao local para providenciar a recuperação do pavimento na área até o final desta semana.

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