terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Depois de 16 anos, Bahia volta a fazer transplante de coração

Eder Luis Santana, do A TARDE On Line

Uma mulher de 29 anos é a primeira pessoa em 16 anos a conseguir um transplante cardíaco em uma unidade de saúde na Bahia. Na última segunda-feira, dia 15, o Hospital Santa Izabel, em Salvador, realizou sua primeira cirurgia desse tipo. A paciente recebeu o coração de um homem dez anos mais velho. A pedido da família, o nome da transplantada não foi revelado. A retomada vai contribuir para evitar que pacientes tenham que ser transferidos para outros Estados paraa realização do procedimento. Somente em 2008, cinco baianos tiveram de ser levados a hospitais de São Paulo para receberem novos órgãos.

Desde 1992, nenhum transplante dessa espécie era feito na Bahia e atualmente o Santa Izabel é o único a a realizar o procedimento no Estado. A cirurgia durou cerca de cinco horas, foi considerada bem-sucedida e a previsão é que a paciente tenha alta em até três semanas. Apesar de estar acordada e respirar sem a ajuda de aparelhos, ela ficará sob observação intensa para evitar o risco de rejeição do órgão.

De acordo com informações da equipe médica, a paciente sofria com lesões em uma das válvulas cardíacas desde os seis anos de idade. O médico que chefiou a equipe cirúrgica, Ricardo Eloy, explica que o problema se agravou e, aos 13 anos, foi necessária a realização de uma cirurgia para recuperação da válvula danificada. Apesar do procedimento, os sintomas pioraram e o transplante se tornou inevitável. “O músculo do coração estava muito comprometido”, explica o médico.

O marido dela, o atendente de posto de saúde Adriano Lacerda, 30 anos, sonha agora que sua esposa possa ter uma vida normal. Emocionado com a situação, Adriano conta que há dois anos ela teve de deixar de trabalhar e mal conseguia fazer atividades simples, como pentear os cabelos ou caminhar. “Vinha uma falta de ar e o cansaço”, lamenta Adriano, que ganha um salário mínimo e, com a doença da esposa, se vira com os afazeres domésticos e ajuda na criação do enteado de 11 anos.

TRANSPLANTE – O médico Ricardo Eloy assegura que, em caso de boa recuperação, a receptora do órgão terá uma vida normal, apesar de necessitar de acompanhamento médico constante. Seis transplantes dessa espécie foram feitos na Bahia no início da década de 90. Depois disso, os hospitais deixaram de realizar o procedimento, que é considerado complexo e exige o preparo técnico e mão-de-obra especializada.

No Hospital Santa Izabel, foram dois anos de pesquisa até que a unidade estivesse pronta. De acordo com o coordenador do sistema estadual de transplantes da Secretaria de Saúde do Estado (Sesab), Heraldo Moura, o Sistema Único de Saúde (SUS) tem assumido os custos com os pacientes enviados a outros estados para serem transplantados.

Como esse tipo de cirurgia estava há 16 anos sem ser realizada, não existe uma lista de espera unificada no Estado. Sabe-se apenas que há apenas mais um paciente no Santa Izabel aguradando um doador compatível.

Questionado sobre o fato da Bahia ter ficado tantos anos sem realizar esse tipo de cirurgia, o superintendente de atenção integral à saúde da Secretaria de Saúde do Estado, Alfredo Boa Sorte, não soube apontar razões precisas para essa lacuna. “Sei que quando assumimos no governo passamos a colocar os transplantes como prioridade. Faz parte de nossa obrigação no trabalho de gerenciar a saúde”, completa.

DOAÇÕES - Na Bahia são realizados transplantes de fígado, rim e córnea. A lista de espera para receber um desses órgãos chega a 3.800 pacientes. Agora, com a inclusão da modalidade cardíaca nessa relação, o desafio é encontrar novos doadores. O maior entrave ainda está na recusa das famílias para autorizar a retirada dos órgãos. Somente este ano foram registrados 43 doadores no Estado, quando o ideal seria acima de 200.

No caso da família que autorizou a doação do coração para a operação no Hospital Santa Izabel, houve ainda a liberação do rim, córneas e fígado. Alfredo Boa Sorte comenta que os esforços têm sido direcionados na busca de potenciais doadores em unidades de saúde em Salvador e cidades como Vitória da Conquista, Feira de Santana, Barreiras e Itabuna.

Hoje, 90% dos transplantes no Brasil são bancados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em 2008, foram 31 de fígado, 67 de rim e 236 de córnea na Bahia. De acordo com o coordenador do sistema estadual de transplantes da Secretaria de Saúde do Estado (Sesab), Heraldo Moura, a previsão é que até março de 2009 o Hospital das Clínicas (Hupes) comece a fazer transplantes de medula. Outras especialidades que se pretende instalar na Bahia são os transplantes de pulmão e pâncreas.

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