quarta-feira, 16 de julho de 2008

Capoeira abre a roda e faz a festa na praça

Por Nelson Rocha
Só faltaram os saudosos Mestres Bimba e Pastinha, responsáveis pela adaptação da capoeira aos novos tempos, para a roda na Praça Municipal ficar completa. Com toques de berimbaus e muita ginga, rasteira, rabo-de-arraia, aú, bananeira e outros movimentos típicos, capoeiristas de todo o Brasil se reuniram ontem, à tarde, no centro da cidade, para saudarem o dia em que a capoeira foi reconhecida e tombada como patrimônio cultural do Brasil, após reunião realizada no Palácio Rio Branco, do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Artistas, intelectuais, políticos, turistas e gente do povo entraram literalmente na roda para pedir a benção aos mestres de capoeira de todo o país, enquanto os 18 membros do Conselho Consultivo do Iphan, responsável pela aprovação dos tombamentos e registros do patrimônio nacional, apreciava a proposta de pedido de registro da capoeira e de tombamento da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, construção que deu nome à capital do Ceará.
“Estou muito feliz. Demorou, mas saiu. Eles acertaram nisso”, dizia Gildo Lemos Couto, conhecido como Gildo Alfinete, 68, da Associação Brasileira de Capoeira de Angola, discípulo do Mestre Pastinha, que já jogou capoeira até em Washington, a convite do governo americano, para George Bush ver. Mestre Sombra, também com 68 anos, sergipano que mora em São Paulo, veio prestigiar a grande roda e vibrar com o 15 de Julho em Salvador. Este é o Dia Nacional da Capoeira, importantíssimo para a consolidação de um reconhecimento, não público, mas governamental, de algo que os capoeiristas já vêm clamando há muito tempo. O reconhecimento chega atrasado, mas é bem vindo”, enfatizou.
“A capoeira faz parte da herança que vem da África. Ela vinha sofrendo um processo de estigmatização de não reconhecimento de sua grandeza, apesar de milhões de pessoas, em 150 países, praticarem a capoeira. O Estado tinha obrigação de fazer este ato de reparação, de encontro do Brasil consigo mesmo. O país também sai mais próximo de se mesmo, mais generoso, mais próximo da utopia da democracia racial. Isso hoje, aqui, é um movimento importante, no campo simbólico, de reconhecimento e de orgulho desta origem africana por parte do Estado brasileiro. Isto tem um significado enorme e prepara um futuro muito melhor que o que nós tivemos até agora”, declarou, em plena Praça Municipal, Juca Ferreira, ministro interino da Cultura.
O pedido de registro da capoeira foi uma iniciativa do Iphan e do Ministério da Cultura, e é o resultado de uma ampla pesquisa realizada entre 2006 e 2007 para a produção de conhecimento e documentação sobre esse bem imaterial.

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