quarta-feira, 16 de julho de 2008

Bahia perde fábrica da Toyota para São Paulo

Unidade representa investimento de mais de R$1,1 bilhão e vai gerar mais 2,5 mil empregos diretos
Graciela Alvarez

Depois de mais de um ano de negociações com os estados da Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo, a Toyota – maior montadora do mundo – definiu onde implantará sua segunda planta industrial no Brasil. O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, divulgou ontem que a nova fábrica da empresa japonesa será instalada na cidade de Sorocaba, no interior paulista, onde produzirá 150 mil veículos, gerando nada menos do que 2,5 mil empregos diretos e cerca de 12 mil indiretos. Os investimentos previstos são da ordem de US$700 milhões, mais de R$1,1 bilhão.

As obras da nova unidade começam no início de 2009 e a produção em 2011. O ministro disse que a Toyota não informou o nome do novo veículo que será produzido, mas já anunciou o interesse em carros de pequeno porte. O investimento foi comunicado ontem ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo presidente da Toyota no Mercosul, Shozo Hasebe.

Miguel Jorge disse que a empresa consultou os governadores da Bahia e do Rio de Janeiro, mas optou por São Paulo por uma questão de logística, já que a outra unidade no país está em Indaiatuba (SP). “Seria muito disperso instalar uma segunda fábrica longe da primeira unidade”, explicou. Em Guaíba (RS), a Toyota conta com um centro de distribuição, utilizado como apoio para os carros produzidos na Argentina.

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Histórico da disputa

Há cerca de três anos, a Toyota amadurecia a idéia de implantar sua segunda planta industrial no Brasil. O intuito é produzir um novo carro compacto, que também deverá ser exportado para vários países da América Latina. Ainda no rastro da “guerra fiscal”, que proporcionou a atração de centenas de indústrias nos últimos anos, a Bahia entrou na disputa pela fábrica. Alguns consultores, inclusive, chegaram a apontar dois dos locais mais propensos para a unidade: Camaçari ou Guaíba, no Rio Grande do Sul. O processo, no entanto, ganhou novas proporções, e São Paulo entrou na disputa.

No governo estadual, a ordem era não falar sobre o assunto. Todo o silêncio acompanhava a cautela dos japoneses para tratar da questão. O governo baiano, no entanto, confirmava que as negociações existiam. O estado, inclusive, preparou um vasto material de divulgação com as potencialidades da Bahia, levado na bagagem do governador Jaques Wagner na viagem que fez ao Japão, em março do ano passado.

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Decisão repercute na Fieb

O presidente em exercício da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), Victor Ventin, lamentou a perda da unidade. “Infelizmente, perde-mos. Aliás, não ganhamos, pois só se perde o que se tem”, ressalta o dirigente. Para ele, além de muitos empregos, o estado deixou de contar com um investimento que poderia alavancar os demais setores da economia baiana. “Sem sombra de dúvida, haveria melhoras, a exemplo do Porto de Salvador. Mas isso não significa dizer que vamos piorar”, finaliza Ventin.

O Correio da Bahia divulgou no último dia 9 de julho que a Toyota já havia decidido pelo município paulista. Mas o governador Jaques Wagner, em uma coletiva para jornalistas, disse, dois dias depois, que não havia ainda uma decisão, e que a Bahia continuava na disputa. Ao receber o comunicado formal da diretoria da Toyota, ele manifestou, em nota, o seu respeito pela decisão da montadora e aproveitou para desejar “pleno êxito à empresa”. Diz ainda que ao longo de mais de um ano de trabalho, a equipe técnica do governo elaborou uma proposta atraente para manter a Bahia na disputa.

A oposição criticou. Para o ex-governador Paulo Souto (DEM), essa é mais uma derrota causada pela falta de uma definição clara da política de atração de investimentos do governo do estado. Para o senador César Borges (PR), a questão reforça a tese de que “a atração gravitacional econômica de São Paulo é muito forte e que, caso não haja uma política fiscal diferenciada que possa empurrar as indústrias para os estados do Nordeste, dificilmente teremos como comemorar novos investimentos.

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