quarta-feira, 11 de junho de 2008

Morte de inocentes foi uma "lição" de maldade

Por Silvana Blesa - Tribuna da Bahia
“Vocês vão aprender como se mata inocentes”, prometeu o traficante “Paulinho”, líder de uma das duas facções que travam verdadeira guerra pelo controle da Baixinha de Mussurunga. A promessa foi feita na última sexta-feira, quando dois membros da quadrilha de “Paulinho” foram baleados e um morador da área controlada pelo traficante foi morto pelo bando de “Carlinhos”, que lidera a outra facção, instalada numa área conhecida como Cascalheira, no mesmo bairro. A vítima fatal era uma pessoa inocente, sem qualquer envolvimento com o crime e nem com as quadrilhas. “Paulinho”, que manda e desmanda na área denominada “Beco do Bozó”, não gostou e resolveu matar inocentes quer seriam protegidos por “Paulinho”. O resultado foi a chacina da noite de sábado, que custou as vidas de sete pais de família.
Paulinho e Rone são tido pela polícia como os líderes da quadrilha que dominam a boca-de-fumo conhecida como Beco do Bozó, situada no mesmo bairro, próximo da escola Tia Zenilda. O alvo deles seria Carlinhos, líder de outro ponto de drogas na Cascalheira e também matar pessoas inocentes como resposta a um crime que Carlinhos cometeu no território rival.
Os dois grupos disputam o tráfico na Baixinha de Mussurunga. Na ultima sexta-feira, os integrantes da quadrilha de Carlinhos invadiram o Becó do Bozó para matar Paulinho, mas acabaram matando Robson Costa Silva, de 33 anos, pessoa que os moradores atribuem ser inocente, e baleado dois integrantes do bando de Paulinho.
Em revide ao ataque, Paulinho ameaçou que iria mostrar para Carlinhos como era que se matava pessoas inocentes. Para isso, reuniu 15 homens do seu bando, no último sábado, e saíram à procura de Carlinhos. A idéia era matá-lo e depois atirar em quem encontrasse pela frente. A ira e maldade dos traficantes eram tão grandes que até um cachorro teve a cabeça decepada com uma faca peixeira, para ilustrar o que fariam com o rival.
Em seguida os homens rumaram para a Rua da Adutora, local onde os dois bares concentravam grande quantidade de pessoas se distraíndo, jogando dominó e tomando cerveja. O local também era freqüentado por Carlinhos e seu bando, e os traficantes liderados por Paulinho seguiram fortemente armados para o Bar da Sol, mas o rival não foi encontrado. Mas o bando estava disposto a matar pessoas inocentes. Começaram matando Evanildo Nascimento Santana que tinha acabado de chegar de um baba e foi morto com três tiros na cabeça. Percebendo que no outro boteco tinha maior quantidade de pessoas, os agressores seguiram para lá e mataram Alcides Magalhães, 37 anos, Luís Carlos Conceição, 31, Rodrigo Conceição, 25, Luís Carlos Silva dos Anjos, 32, Eraldo Pereira Lima Filho, 34, e Gecildo Nascimento Oliveira, 45. Balearam Gildo Azevedo da Silva, 32, e Aderaldo dos Santos Cerqueira, 34, que só escaparam da maior chacina jamais vista na Bahia, porque se fingiram de mortos. Na fuga depois de praticar os crimes, os traficantes pisotearam uma adolescente que chegava da rua e ao passar por um beco foi derrubada pelos assassinos. A menina sofreu vários ferimentos no corpo e se encontra traumatizada trancafiada dentro da residência.



Moradores fecham Paralela e pedem justiça


; O bloqueio das duas pistas da Avenida Paralela foi a maneira encontrada pelos moradores da Baixinha de Mussurunga para pedir por justiça e segurança no local onde moram. A manifestação começou às 13h e só terminou às 15h com o convite do secretário de Segurança Pública, César Nunes, para uma conversa com quatro representantes da comunidade.
Logo após os sepultamentos de Eraldo Pereira Lima e Luís Carlos Conceição, no cemitério de Itapuã, todos os que estiveram presentes chegaram até a Avenida Paralela, em frente à rua onde ocorreu a chacina, num ônibus fretado pela associação dos moradores.
Eles bloquearam a pista ateando fogo em pneus e em pedaços de madeira. Faixas, cartazes e performances serviram para expressar os sentimentos de dor e revolta dos amigos, parentes e moradores da localidade.
O primeiro bloqueio ocorreu na pista de quem sai do Aeroporto para pegar a Paralela. Ao perceberem o manifesto, os motoristas invadiram o canteiro da avenida e se dirigiram para a pista oposta, sentido Itapuã. Dez minutos depois a pista do sentido contrário também foi bloqueada. Um verdadeiro caos tomou conta da região.
Policiais da Rondesp estiveram no local para impedir a manifestação. O sargento PM Luiz Alberto se exaltou e quase agrediu um manifestante, mas hesitou ao perceber a presença de uma emissora de televisão.
Policiais de Choque também estiveram no local, mas não se intimidaram com a presença dos veículos de comunicação. Um deles agrediu os moradores verbalmente e empurrou uma mulher que protestava com uma faixa nas mãos. “Eles estão nos agredindo verbal e fisicamente. A gente só quer justiça, temos esse direito”, gritava a mulher agredida.
Uma nuvem de fumaça preta tomou conta dos dois lados da Avenida Paralela. Motoristas ficaram nervosos e não entendiam os motivos do bloqueio. Parentes das vítimas sentaram-se no chão para impedir a passagem dos carros no momento em que policiais da Rondesp conseguiram tirar os pneus e pedaços de madeira da pista. Minutos depois, a pista foi bloqueada novamente pelos manifestantes.
Um dos momentos mais emocionantes para os parentes das vítimas foi quando sete homens se jogaram no chão, um em cima do outro, simulando a chacina ocorrida na noite de sábado. Nesta hora, os familiares começaram a chorar. Uma senhora, aparentando 50 anos, não se preocupou com os pulmões e, sozinha, entrou na nuvem de fumaça com um cartaz escrito à mão a palavra ‘Justiça’.
Na tentativa de demonstrar serviço e velocidade nas investigações da chacina da Baixinha de Mussurunga, policiais da 12ª Delegacia de Polícia invadiram a casa de uma moradora da localidade, por volta de meio-dia de ontem, e levaram um garoto de 14 anos para a delegacia. A tia do garoto, Débora Santos Souza, entrou em desespero ao saber da notícia. O menino foi liberado às 17h do mesmo dia.
Segundo a prima do menino, que presenciou a invasão, os policiais queriam informações sobre Carlinhos, traficante da região que também era o alvo dos autores da chacina. Após os policiais terem levado o garoto, a menina saiu correndo para contar o ocorrido. Ela revelou ainda ter sido chamada de ‘vagabunda’ pelos policiais. Já o garoto prestou depoimento na delegacia e disse conhecer Carlinhos, mas afirmou não ser amigo dele.
De acordo com uma moradora, que também prefere não se identificar, Carlinhos costuma entrar nas casas da região para se esconder da polícia ou de traficantes. “Ele entra na minha casa, você acha que eu vou botar pra fora? Ele entra e eu saio”, conta.
Embora tenha sido solto pela polícia, os familiares do jovem rechaçam a atitude dos policiais. “Como é que invade uma casa dessa maneira e leva um garoto de 14 anos sem nem explicar direito o que está acontecendo?”, questionam. (Por Hieros Vasconcelos)



Traficantes matam e fazem as leis na baixinha


; A população da Baixinha de Mussurunga vive os mais temerosos momentos de suas vidas. O bairro agrupa dois grupos de traficantes que dominam o tráfico e ditam ordens e leis. O bando liderado por Carlinhos domina o tráfico na Cascalheira sendo composto por Kleber, “Tapioca”, Leandro, Napólio e “Bolota”. Este bando invadiu o território do Beco do Bozó, separado da Cascalheira por uma roça e comandado por Paulinho e Rone.
Durante o massacre, Carlinhos e seus aliados estavam numa esquina próximo do local do crime e ao saberem que eram procurados se esconderam. No domingo pela manhã, o bando de Carlinhos deixou o bairro. Os autores da chacina liderada por Paulinho também se encontram fora do bairro, mas a polícia já os identificou.
Os traficantes perambulam pelo bairro com as armas em punho tranqüilamente para vender drogas e intimidar os moradores. Nos últimos meses, a comunidade presencia constantes tiroteios entre as facções.
As metralhadoras, escopetas e pistolas são fornecidas por um homem de prenome Adebízio, que também reside no local e receberia apoio de policiais, conforme denunciam alguns moradores. Uma mulher disse que os traficantes nasceram e cresceram no bairro e hoje se tornaram monstros. “E até a polícia tem medo de enfrentá-los. Já cansamos de chamar a polícia aqui e os agentes dizerem que não iriam descer na baixada porque os traficantes estavam bem armados”, revelou uma moradora.
Ontem os moradores estavam de luto, a comunidade parada depois de um massacre, as ruas se encontravam vazias. Ninguém foi trabalhar, as crianças não foram para as escolas. “Eu tenho dois filhos que estudam na escola Tia Zenilda, mas ficamos temerosos e não sei o que fazer para levá-los à escola. Até que ponto chegamos, em uma comunidade que nunca viveu isso, agora temos medo até de sair na rua”, disse uma mulher.
A noite custou de passar para várias pessoas residentes na Baixinha de Mussurunga, eles revelaram que as ameaças dos traficantes de voltarem para mais uma matança, fizeram os moradores se trancarem em suas casas desde as 17 horas do último domingo. “Eles saíram avisando que voltavam, depois do que aconteceu, vamos evitar até mesmo nos divertirmos pelas ruas, batendo papo com os vizinhos e sentados nos botecos que são os principais pontos de lazer que nós temos”, revelou um homem. (Por Silvana Blesa)

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