sábado, 14 de junho de 2008

Baixa renda já consome produtos de primeira linha

Classes D e E incrementam as compras nos supermercados com itens, até então, fora da cesta básica
Jorge Velloso

O carrinho de compras das famílias de baixa renda – com salário médio até R$560 – passou a receber produtos que antes não cabiam no orçamento. Com o incremento dos rendimentos, registrado nos últimos anos, o preço deixou de ser critério de maior peso de decisão, e alimentos como biscoitos recheados, pizzas congeladas, refrigerantes, sorvetes e chocolates, por exemplo, já são bastante adquiridos por consumidores das classes D e E. Os supermercados ainda não contam com números oficiais sobre esta nova tendência de consumo, mas profissionais do ramo e economistas confirmam tal crescimento.

Murilo Almeida Cunha, gerente do supermercado JWC, no Vale das Muriçocas, no bairro da Federação, garante que, cada vez mais, o público que freqüenta o estabelecimento está comprando produtos que não costumava adquirir. “Tem gente que vem aqui até três vezes no dia para comprar biscoitos recheados. Aqueles que fazem compra de mês também levam muitos produtos fora da cesta básica”, conta o gerente.

A diretora da Associação Baiana dos Supermercados (Abase), Lilian Mota, também confirma a tendência. “Nos dias de semana, a carne de hambúrguer é a campeã em vendas. Já no final da semana, as famílias de baixa renda costumam consumir principalmente pizzas congeladas”, afirma Mota.

O economista Carlos Augusto Franco Magalhães acredita que o crédito fácil está provocando a mudança de costumes nessas famílias. Para ele, o consumo de pessoas de classe baixa tem aquecido bastante o mercado alimentício no momento. “O problema é que isso gera inflação. Porque as indústrias não têm como atender à demanda e acabam aumentando os preços”, explica o economista.

Num supermercado na avenida Garibaldi, a empregada doméstica Elisabeth Santos Conceição, 30 anos, se aproxima de um dos caixas carregando um pote com dois litros de sorvete em uma das mãos, e noutra duas lasanhas congeladas. A escolha foi pelo gosto da filha de 10 anos. O pagamento foi feito no cartão de crédito. “Se deixarmos de comprar as coisas por serem mais caras, acabamos não comendo o que queremos”, justifica Conceição.

O mesmo pensamento tem o ajudante de pedreiro Mário Souza Filho, 25 anos. “Como vou viver sem tomar um guaranazinho?”, brinca o jovem, que ganha aproximadamente R$500 por mês.



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