sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

RJ - Em clima de greve, policiais militares do Rio negam envolvimento com políticos



Movimento grevista foi acusado pelo comandante-geral de ser politizado

Representantes de cada batalhão se reúnem na manhã desta sexta-feira (13/01) com o comandante-geral da Polícia Militar, o coronel Erir Ribeiro Costa Filho, para expor as exigências do movimento grevista. Desde o sucesso da paralisação da categoria no Ceará, a PM fluminense tem se unido cada vez mais para tomar o mesmo rumo.  Como Erir Ribeiro tem bom relacionamento com a tropa, sua ideia original era levar as reivindicações dos policiais ao governador Sérgio Cabral. 
As eleições municipais deste ano, no entanto, já figuram como o principal obstáculo dos grevistas. O governador teme que seus adversários políticos se aproveitem da mobilização e usá-la como palanque contra a reeleição de Eduardo Paes, por isso já indicou ao comandante-geral que terá pouca tolerância com uma possível paralisação do dia 11 de fevereiro. Em contrapartida, os líderes da greve garantem que não têm qualquer vínculo político com adversários do governo.
“Está claro para os líderes da greve que o governador Sérgio Cabral não é nosso inimigo. Nós estamos defendendo a nossa categoria, e não enfrentando o governo. Tanto é que, se nossos pedidos forem atendidos, não vai haver greve”, explica o cabo Joao Carlos Soares Gurgel, um dos líderes do movimento grevista. “É claro que não podemos ser hipócritas. Estamos falando de milhares de policiais militares. Alguns podem realmente ser abertamente contra o Sérgio Cabral e simpatizar com seus rivais, mas esse não é o espírito do nosso movimento.
Policiais militares reivindicam melhores salários, benefícios e regulação da jornada de trabalho
Apesar de ter maioria absoluta na Assembleia Legislativa e na Câmara, os políticos aliados de Sérgio Cabral têm pouco ou nenhum diálogo com os policiais militares. Hoje, as principais vozes da categoria no legislativo são de oposição, como o major reformado Paulo Ramos (PDT) e os irmãos Flávio e Carlos Bolsonaro (ambos do PP). O próprio cabo Gurgel, que foi candidato a deputado estadual em 2010 pelo PTB e pode se candidatar a vereador neste ano, foi atacado pelo comandante-geral por supostamente usar a greve a seu favor.
"Se eu chegar na reunião e tiver essas pessoas (com envolvimento político), eu vou dizer isso na cara deles, que eles são aproveitadores. Não estão vendo o interesse da corporação e sim o deles", disse o coronel Erir Ribeiro, durante uma entrevista coletiva na última quinta-feira (12/01). Para Gurgel, a declaração foi uma tentativa de desqualificar os grevistas. 
“O que eu tento deixar claro é que eu não sou um político. Eu sou um policial militar escolhido por outros policiais para representar a categoria. Tanto que sou apenas um porta-voz dos grevistas, e não um líder absoluto na força. A insatisfação com as atuais condições de trabalho não foram inventadas por mim, estão todas lá”. 
Apoio popular
Vítimas constantes de ataques do crime organizado, donos do pior salário da categoria em todo o país e trabalhando em jornadas semanais de 72 horas, os policiais militares que se mobilizam pela greve enfrentam outro problema: a falta de apoio popular da corporação, cuja imagem acabou manchada pelas milícias e casos recorrentes de corrupção.  Para ganhar a simpatia do povo, os policiais pretendem expor as condições precárias nas quais vivem. 
“Quem está revoltado é o policial militar justo e honesto, o policial que não recebe propina. O corrupto está feliz com as coisas da maneira que estão. Ele não gasta quase metade do salário dele com transporte, já que nós não temos vale-transporte, ele não fica sem dinheiro no fim do mês, ele é favorecido. Infelizmente, quem está de fora acha que todo policial militar é bandido, mas isso só diz respeito a uma parte pequena da corporação”, garante Gurgel, que busca o apoio dos bombeiros. 
“A Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros são regidos pela mesma legislação, eles são os nossos co-irmãos. Além disso, os bombeiros têm uma imagem muito positiva com a sociedade e simpatizam com as nossas reivindicações. Eles estão juntos no movimento”.
Exclusivo: confira as reivindicações dos policiais militares ao governo do Rio
Os policiais militares que integram  movimento grevista se reúnem na manhã desta sexta-feira, às 9h, com o comandante-geral da Polícia Militar, o coronel Erir Ribeiro Costa Filho. OJornal do Brasil teve acesso à pauta da reunião, após a qual o coronel Erir Ribeiro deve levar as reivindicações ao governador Sérgio Cabral. 
Piso salarial
Os policiais militares do Rio, donos do pior salário-base do Brasil, querem um aumento dos vencimentos iniciais de R$ 1.031 para R$ 3.000. A justificativa dos grevistas é a alta complexidade e periculosidade das atividades da PM no estado, cujo crime organizado é bem mais forte do que em outras regiões do país. 
Carga horária
Os grevistas também pedem o estabelecimento de uma carga horária fixa de 40 horas. Em alguns casos, os policiais militares chegam a trabalhar em jornadas de 72 horas semanais, contrariando a legislação que rege os funcionários públicos estaduais. Eles também querem ter direito a outros benefícios do funcionarismo público estadual, como remuneração extra do trabalho noturno, licença paternidade, redução de carga horária e gratificação para atividades insalubres ou perigosas. 
Fim das prisões administrativas e proteção dos policiais grevistas
Os policiais também pedem a revisão do regulamento da Polícia Militar e a adoção de um novo código de ética, já que o atual ainda prevê a prisão de agentes por infrações pequenas, como o atraso. Para evitar atitudes truculentas do governo contra o movimento grevista, eles também pedem ao comando que não transfira ou prenda os agentes que estejam fazendo reivindicações para melhorias na categoria. 
Vale-transporte
A falta de um vale-transporte adequado à distância entre a residência e o local de trabalho dos policiais também é outra reclamação. Em algumas UPPs, onde agentes recém-formados do interior do estado estão lotados, os gastos com transporte chegam consumir 50% do salário. Por isso, os grevistas pedem a regularização dos vale-transportes. 
Sistema de "rancho" e vale-refeição
Outro pedido é o fim do sistema de "rancho", que obriga os policiais militares a realizarem suas refeições nos refeitórios das unidades. De acordo com os policiais, falta higiene na preparação das refeições e a comida servida não condiz com o cardápio divulgado pela Polícia Militar. 
Falta de equipamento e segurança
O movimente também quer que o governo do estado tome medidas para garantir a segurança dos policiais militares em seu trabalho e leis mais severas para crimes contra policiais. A justificativa são os ataques constantes aos agentes. Eles também solicitam a adequação do equipamento policial já que, em muitos casos, os coletes à prova de balas não estão disponíveis em todos os tamanhos.

Exibições: 391

Nenhum comentário: