quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Ceará - PMs depredam carros e ofendem colegas que não fizeram greve


Situação levou líderes do movimento grevista no Ceará a divulgar vídeos pedindo que soldados parem as retaliações

A greve de seis dias dos policiais e bombeiros militares do Ceará rendeu à categoria reajuste salarial, redução da carga horária e a promessa de que nenhum dos envolvidos no movimento sofrerá punição. Contudo, os policiais que ficaram de fora da paralisação não tiveram o mesmo “perdão” por parte de seus colegas.
Após a volta das tropas aos quartéis e a normalização do policiamento no Ceará na última quarta-feira (4), muitos policiais passaram a sofrer retaliações por não terem aderido à greve. O iG apurou que, além de sofrerem insultos, alguns militares tiveram ainda seus veículos particulares depredados. A hostilidade entre os praças da corporação (militares de nível hierárquico baixo) levou os líderes do movimento a ir a público pedir calma.
Um dos principais articuladores da greve e interlocutor durante as negociações com o governo do Estado, o deputado e capitão da PM, Wagner Sousa (PR), gravou um vídeo aconselhando os militares a cessar as agressões. “Chegou ao nosso conhecimento que vários militares estão retaliando os companheiros que não aderiram ao movimento. Essa não é a maneira correta de conquistar o companheiro. Existe a possibilidade de outros movimentos daqui para frente. Então a gente precisa cada vez mais unir a categoria”, diz Sousa no vídeo.
O deputado faz ainda um alerta. Ele lembra que o indulto dado pelo governo aos militares que participaram da greve se restringe ao período que antecede o término do movimento. “Toda e qualquer insubordinação, toda e qualquer desobediência que vocês cometerem daqui para frente não vão estar garantidos pela anistia”, avisa.

O presidente da Associação dos Cabos e Soldados Militares do Ceará (ACSMECE), cabo Flávio Sabino, também gravou seu “comunicado à tropa”. “Tenho recebido notícias de muitas retaliações no interior do Estado. Pelo amor de Deus, vamos parar com isso”, pede ele na gravação disponibilizada no site da associação. “Não somos a favor de nenhum ato de retaliação ou de perseguição. Também não compactuaremos com a indisciplina e não daremos força para que ninguém venha a se insubordinar”, adverte. 
Chegou ao nosso conhecimento que vários militares estão retaliando os companheiros que não aderiram ao movimento. Essa não é a maneira correta de conquistar o companheiro
O Comando Geral da Polícia Militar do Ceará diz que não recebeu denúncia formal sobre essas retaliações. Porém, admite “rumores” nesse sentido. Segundo o tenente-coronel Albano, responsável pela assessoria de imprensa da PM, há apenas um “mal-estar” em algumas tropas, discussões banais e casos pontuais. “Nada generalizado”, observa.
Albano faz ainda uma avaliação positiva sobre “os ânimos das tropas”. Na visão dele, os policiais “atingiram seus objetivos” inclusive com o apoio de uma parcela da sociedade. Por isso, para o tenente-coronel, “mais do que nunca a tropa deve se debruçar em defesa da sociedade”. “Tem de retribuir com suor e sangue”, defende.
Dos cerca de 10 mil militares que paralisaram as atividades, 3,6 mil pertencem ao Batalhão de Policiamento Comunitário – o chamado Ronda do Quarteirão, formado por 3,9 mil policiais, ao todo. A maioria desses militares está ainda em período probatório de três anos. Isso significa que a continuidade das carreiras desses policiais ainda será posta em cheque, não apenas pelos seus superiores, mas pelas secretarias de governo do Ceará.

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