R7 visita o Vietnã 50 anos depois do início da guerra
Conflito deixou marcas eternas na população vietnamita

Quang não sabe o que é a guerra do Vietnã, que o resto do mundo conheceu principalmente por filmes como Apocalypse Now, Platoon, O Franco Atirador e Americano Tranquilo. O que ele vive, mais de 30 anos após o final do conflito, é o que é conhecido no país como a guerra Americana.
Na guerra do Vietnã, que completa teoricamente 50 anos neste 14 de dezembro – data em que o então presidente Robert Kennedy determinou a intensificação do envio de tropas ao país –, pouco mais de 58 mil soldados (norte-americanos) morreram no conflito.
Na guerra Americana - a que nosso amigo do riquixá conhece - 1,2 milhão de soldados morreram e as estimativas apontam que quatro milhões de civis foram mortos ou feridos. O sexagenário entra em outra conta, a das pessoas que sofrem consequência até hoje.
Antes, vale dar uma resumida no que foi a guerra. Começou quando o Vietnã decidiu declarar independência da França, ao final da Segunda Guerra, em 1945. A colônia amargou nove anos de batalha até vencer e assinar um acordo, que dividia o país em dois – norte comunista e sul capitalista.
Os EUA coçaram as orelhas, viam ali uma possibilidade de avanço do lado vermelho na Guerra Fria que travava contra a então União Soviética e em 1961, no primeiro ano do governo Kennedy, após três revezes – perda da soberania na questão cubana, construção do Muro de Berlim e perda na disputa fria no Laos -, o presidente decidiu que era hora de apontar os canhões para o Vietnã.
Na prática, foi simulado um ataque a navio norte-americano quatro anos depois para “legitimar” o envio pesado de tropas para o país – no total, 3.140.000 soldados dos EUA foram para o Vietnã para defender o Sul do país, alinhado em posição política. Tudo contra os vietcongs (acrônimo de Viet Nam Cong Sam, comunistas vietnamitas traduzindo).
Nosso personagem morava no sul e foi motorista da embaixada dos EUA durante o conflito. Ele e todos os que participaram aliados às tropas americanas sofrem represálias eternas. O papel que me entregou autorizava sua imigração para os EUA, mas o governo vietnamita nega emissão de passaporte e até mesmo que ele pratique alguma atividade econômica que não seja informal.
Assim, no dia seguinte ao final do conflito, médicos, engenheiros, não importava a formação, foram impedidos de exercerem as aptidões profissionais e a moeda do país foi unificada na proporção de 500 para 1. Em favor do norte, claro. Esse fato deixou todos que guardavam qualquer coisa em espécie miseráveis da noite para o dia.
Nos anos anteriores a isso, foi deixado um rastro de desgraça no país e afetou as populações locais independente das suas posições políticas. As selvas do país foram banhadas com 73 milhões de litros de agentes químicos (agentes laranja, azul e branco), para desfolharem a mata e assim as batalhas fossem travadas em terreno aberto. Os químicos acabaram com 16% da vegetação vietnamita e deixaram agentes tóxicos no solo que são encontrados até hoje em amostras de leite materno de mães nas áreas mais afetadas.
Devido à contaminação é enorme a quantidade de crianças com defeitos congênitos. Estima-se em 500 mil as crianças com problemas nascidas após o final do conflito. Fui visitar um hospital em Ho Chi Minh, Tu Du, que trata de muitas dessas, e a enfermeira-chefe foi taxativa: “o custo é muito alto para comprovarmos cada caso. Um dos exames necessário não sai por menos de mil dólares. E temos que usar tudo o que temos para cuidar das crianças. Nossa convicção vem do fato de que praticamente todas as crianças que recebemos vêm de áreas muito atingidas durante a guerra”, afirmou Truóng Thi Tem.
Na zona onde foi dividido o país, um cinturão 5 km acima e abaixo do rio Ben Hai, na chamada zona desmilitarizada, o rastro de bombas não detonadas e minas terrestres é enorme. Muitos se aventuram a caçá-los, para venderem para o governo, o que gerou mais cinco mil mortes nos anos seguintes ao término da guerra.

Museus também se aproveitam da guerra. Estes tiveram que se adaptar à nova realidade depois de os EUA retirarem o embargo econômico ao país, em 1994, e reatarem relações diplomáticas no ano seguinte.
O mais famoso de Ho Chi Minh City, que era o Museu dos Crimes de Guerra Norte-Americano, virou Museu das Reminiscências de Guerra. Nele não conta que os norte vietnamitas romperam o acordo de cessar-fogo assinado em troca da retirada das tropas dos EUA do país em 1975 (acordo fora firmado em 1973) e tomaram a capital Saigon, atualmente Ho Chi Minh City. Entretanto o museu exibe com estardalhaço as oito medalhas por bravura que o sargento William Brown, dos EUA, enviou em 1º de junho de 1990 com a seguinte mensagem: “Para as pessoas do Vietnã unido: eu estava errado. Eu peço desculpas”.
Luiz Cesar Pimentel, Do R7
FONTE: http://policialbr.com/profiles/blogs/r7-visita-o-vietna-50-anos-depois-do-inicio-da-guerra?xg_source=msg_mes_network#ixzz1gW8JxOhy
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