quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Mercado de antiguidade promete virar loja oficial da Olimpíada após Jogos

Rodrigo BertolottoEm Pequim (CHN)
"Liga para mim na próxima semana, e eu consigo alguma coisa para você. Talvez eu consiga um exemplar da tocha para você levar para o Brasil." O vendedor está cercado de vasos da dinastia Ming, objetos cristãos e memorabilia comunista.
O pedido inusitado faz o comerciante improvisar. Terá que mobilizar seus contatos para conseguir o item desejado. Qual seria o preço? "Depende quanto trabalho eu levar para achá-la. Pode ser 800 ou 1.000 yuans", estipula o senhor Fang. Parece caro R$ 200 ou R$ 250. Afinal, o item se espalhou pela China depois de dias e dias de trajeto até a pira, que será acesa nesta sexta no estádio Olímpico. Há, porém, sempre espaço para a barganha atrás de um valor que não passe da metade do preço sugerido.
O mercado de antiguidade Pan Jia Yuan virou uma referência para quem vai a Pequim atrás de fina arte de decoração dos chineses. O problema é que os objetos autênticos que fizeram fama do local já se foram faz tempo. Principalmente no galpão principal, onde os ambulantes espalham cacarecos e penduricalhos sobre toalhas.
Um deles tenta convencer que a caixa com tabuleiro e peças de xadrez são de "1.000 anos atrás". Pede 500 yuans, para logo pedir sorridente 200 yuans. A mesma tática é usada com um antigo mahjong, jogo que tem sistema parecido ao da paciência do baralho, mas que utiliza pedras como o dominó, mas com figura de plantas e ideogramas. Nada disso é tão antigo e algumas dos artigos podem ter sido forjados na semana passada. Essas reproduções, contudo, são ótimas, o que pode indicar que se aparecer uma tocha olímpica por lá pode ser uma réplica que nem levou o fogo dos Jogos.
De qualquer forma, o governo chinês só permite que o estrangeiro saia do país com objetos posteriores a 1795. Portanto, não adianta tentar achar uma obra milenar. E melhor se concentrar em comprar nas lojas oficiais de produtos licenciados ou nas barraquinhas de piratas, que conseguem escapar da promessa do governo local de barrar a atividade. Mas dentro de duas semanas, esses Jogos de Pequim farão parte do passado tanto quanto os últimos imperadores na Cidade Proibida ou a invasão japonesa.
Os itens esportivos são poucos no mercado Pan Jia Yuan. No corredor de selos, alguns álbuns guardam exemplares chineses, como a série de 1980 que celebrou a Olimpíada de Moscou, da qual a China acabou não participando. Há fotos de pingue-pongue e jogos de mesa, mas a leva esportiva está mesmo esperando que o maior evento da área passe pela capital chinesa.
Por enquanto, o que domina por lá são objetos de decoração, móveis e instrumentos - até caco de cerâmica é comercializado por lá. Um dos vendidos são os relógios e despertadores com os braços de Mao Tse-tung, líder da Revolução Comunista de 1949 que continua reverenciado no país, apesar de já ter virado um objeto pop.
Mas com as vendas em baixa nos dias de semana (sábado e domingo são mais movimentados), os vendedores fazem sua Olimpíada particular de carteado. Entre uma mão e outra, olham os visitantes e gritam "luca, luca" e "guda, guda", querendo dizer look (veja) e good (bom).

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