terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Burra sociedade


Burra sociedade

Os ponteiros da Catedral marcam 18 horas, e é nesse horário que a cidade se movimenta, pois todos vão embora em direção ao descanso merecido. Trabalhadores árduos e extasiados de tanta rebeldia por aí.

Mas o servente de pedreiro espera as 20 horas chegarem, para, quem sabe, parar de ‘bater massa’. Chegando em casa, o de praxe: arroz e feijão esquentados do almoço e dois ovos fritos. A televisão sabe sozinha o canal preferido. Um ‘boa noite’ do âncora do telejornal mais famoso do país é prontamente atendido com olhares de atenção dos milhares de espectadores. 

As notícias começam como no dia anterior, corrupção é a pauta, para variar. A entrevista com o político fanfarrão chega a ser irrisória. ‘Calúnia’, dizia ele. A segunda matéria vem da Bahia, de greve, de polícia e é claro: confrontos.

Extasiado, o trabalhador cai na ideologia passada por jornalistas induzidos à hipocrisia. A greve é tratada como algo banal, os grevistas entram em confronto com soldados e a região metropolitana de Salvador fica à mercê da violência. Mas o Carnaval chegou, agora eles dão um tempo. 

E então o esporte brasileiro é transmitido como se não tivesse nenhum problema. O futebol é tratado como se ainda fosse o melhor do mundo. E convenhamos, caro amigo trabalhador: não é. A maior emissora de TV do país, com suas atitudes controversas e políticas, não têm o poder de questionar e mostrar para o público a realidade completa dos fatos. 

Sabemos ainda que não vamos passar vergonha na Copa do Mundo e nas Olimpíadas. Mas não porque os políticos são tão capazes de fazer algo perfeito, e sim porque o preço do arroz, do feijão, da bala subiu. Porque a educação está jogada e a saúde pública dá vergonha. Os estádios e centros esportivos vão ser construídos como se vivêssemos num país de primeiro mundo. Mas não se sinta bem, você está pagando tudo isso, enquanto passa fome.

E no tal de Jornal Nacional aquele belo ‘boa noite’ vem depois de os apresentadores anunciarem os "princípios editoriais das Organizações Globo", que, entre outras mentiras, ressalta o comprometimento com a verdade e a lealdade com a notícia, visando sempre o melhor para seu espectador.

Boquiaberto com tamanha veracidade e comprometimento com o público da emissora, o pai de três filhos comenta em voz alta a grande admiração por tal empresa. E ele, como milhares de leigos espalhados pelo país, vai acordar às cinco horas, ‘bater massa’ até as oito da noite e assim pagar seu IPTU em dia. Certamente, se reconhecesse a verdadeira realidade não faria a rotina com tanta disposição. 

E depois do jornal vem a novela com suas ambições particulares. Já faz um bom tempo que o entretenimento deixou de ser algo saudável, são incontáveis os costumes e ideias que uma novela totalmente manipulada é capaz de fazer. 

O êxtase da noite vem com um programa que encanta o Brasil. Aquele mesmo que tem um jornalista como apresentador, que se submete ao ridículo e ao extremo, tratando as ‘peças’ que vivem juntas como heróis. Não deve mesmo ser fácil ficar na casa mais luxuosa que já se viu, com mulheres e homens desfilando sua beleza, com festas e bebidas à vontade toda semana, concorrendo a carros, motos e o que tiver de última geração, e, ainda, saber que algum desses ‘artistas’ receberá o prêmio oferecido e muito mais, com publicidade e ‘reconhecimento’ da sociedade. 

Alguns justificam a distância da família como a principal dificuldade em participar de um reality show como esse, e aqui vai a minha opinião. Esta semana eu conversei com um dos operários que estão levantando o shopping de Assis e, com lágrimas nos olhos, ele disse que veio do Maranhão e está há sete meses sem ver a família. Pobre coitado poderá trabalhar mais tantos nove meses como construtor, que ainda não juntará o montante de reais oferecidos aos participantes, que ficam no máximo três meses naquele lugar, e sem pegar no batente. 

Mas sabe o porquê de tudo isso? Pela sociedade. Pela audiência aos poderosos, por não saber sequer escolher um governante, e, acima de tudo, por não questionar. 

O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons." Disse Martin Luther King. Os ‘bons’ já se cansaram, agora pagamos o pato. 

Depois não adianta reclamar dos próximos presidentes. 



FONTE: http://policialbr.com/profiles/blogs/burra-sociedade?xg_source=msg_mes_network#ixzz1n4XH4taL
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