sábado, 4 de maio de 2013

"O esporte amador não é valorizado", diz Edvaldo Valério


"O esporte amador não é valorizado", diz Edvaldo Valério

Diego Adans
  • Fernando Vivas | Ag. A TARDE
    "Após 13 anos que ganhei a medalha, a situação (do esporte amador em Salvador e na Bahia) é ainda pi
Em 2000, nos Jogos Olímpicos de Sidney, na Austrália, Edvaldo Valério escreveu seu nome na história da natação nacional e mundial. Então aos 22 anos, Valério, nascido e criado no bairro de Itapuã, tornou-se o primeiro nadador baiano e brasileiro negro a participar dos Jogos e conquistar medalhas. Ao lado de Fernando Scherer, o Xuxa; Gustavo Borges e Carlos Jayme, Valério faturou o bronze no revezamento 4 x 100 m livre.
Após o feito, nadou por nove anos. A falta de reconhecimento local fez com que "Bala" - como é conhecido - passasse os últimos anos da carreira longe da Bahia. Foram duas temporadas em Minas Gerais e outras duas no Rio Grande do Sul.
Hoje, aposentado das piscinas, lamenta a falta de apoio ao esporte na Bahia. Em entrevista ao A TARDE, ele critica o fato de a capital baiana não possuir uma piscina olímpica e cobra as promessas não cumpridas do governo estadual.
Como vê o fato de Salvador não ter uma única piscina com medição olímpica (50 metros)? A que se tinha, na Vila Olímpica da antiga Fonte Nova, acabou implodida por conta da construção da nova arena.
É um descaso muito grande. Não só com a natação, mas com as outras modalidades esportivas. Além da demolição da Fonte em 2010, foram-se (demolidas)  a Vila Olímpica e o Ginásio Balbininho. Agora, a Arena já foi construída. Está em pleno uso. E cadê a piscina? Há condomínio em Salvador que  se vangloria de ter a única piscina olímpica da cidade. Isso é uma vergonha para o esporte, para o governo. O próprio governador Jaques Wagner havia feito a promessa de que antes da Arena ficar pronta, a piscina estaria construída. Não saiu do papel. Está no processo da terraplanagem do terreno. Na Bahia, não valorizam o esporte amador. Após 13 anos que ganhei a medalha olímpica, a situação é ainda pior.
Então, a falta de apoio das autoridades locais o levou a deixar Salvador logo após o bronze olímpico?
Exatamente. Quando ganhei a medalha, ficou a euforia inicial. Fui o centro das atenções. Mas no ano seguinte (2001), perdi metade dos patrocínios. A possibilidade que eu encontrei para continuar no esporte de alto rendimento foi buscar alternativas em outros lugares. Por isso, me mudei para Porto Alegre e, depois, Belo Horizonte. As  realidades esportivas eram totalmente diferentes se comparadas a Salvador. O esporte amador precisa ressurgir aqui na Bahia. Sempre fomos um celeiro de atletas. Não só na natação, mas no atletismo, basquete, futebol feminino, no boxe... Hoje, além da piscina, falta um ginásio.  Não temos condição de trazer um evento oficial de competição nenhuma. Só podemos contar com estruturas naturais. Ou seja, a praia. Aí, sim, podemos receber campeonatos de surfe, vela, jet-ski. Fora isso, decepção.
Após a era Valério, não houve outro baiano que se destacasse nas piscinas...
E vai ser difícil, viu? A realidade da natação baiana não é nada animadora. A cada dia que passa, fecham-se clubes sociais tradicionais de Salvador. Se já não há boa estrutura, a situação fica pior ainda. Desta forma, a única alternativa que vejo é os nadadores (de piscina) migrarem para a maratona aquática. A situação já é corriqueira. Ana Marcela, Allan do Carmo e Luiz Rogério são exemplos. Eram atletas de piscina e acabaram no mar. Neste cenário, será difícil revelar ou formar um  novo Edvaldo Valério por aqui.
Em 2012, você lançou sua candidatura a vereador, mas a retirou em seguida. Quais eram seus objetivos?
A minha candidatura (pelo PRTB) foi em função de querer lutar em prol do esporte amador. Só que política não é nada fácil. Não é coisa para amador. Não me senti preparado, mas não desisti. Posso me candidatar futuramente. Tento acabar com essa visão voltada apenas ao futebol. Não tenho nada contra este esporte. Adoro futebol, assisto e acompanho, mas há uma supervalorização dos atletas que o praticam. Em contrapartida, há a desvalorização dos atletas do esporte amador. Quando chega a época das Olimpíadas, cobram-se resultados e querem  que o país evolua no quadro de medalhas. Mas como? Se não damos estrutura e só privilegiamos o futebol...
Quanto aos jogos Olímpicos do Rio, quais são as suas perspectivas?
(Risos). É até engraçado. Em 2007, fomos sede do Pan-Americano. Em 2016, receberemos a Olimpíada.  Nesse curto intervalo de tempo, toda estrutura que foi montada para o Pan... Nada vai ser aproveitado. Tudo ficou sucateado, foi superfaturado. Não temos uma estrutura adequada. É um absurdo! Aqui mesmo na Bahia... Não existe  um centro desportivo. Volto a falar: como teremos baianos no pódio do Rio-2016? Será na base da mágica? Não estou tão otimista, não. Só chegaremos a algo na superação, na individualidade dos atletas.
Você, ao menos, está fazendo sua parte, não é? Fale mais sobre o projeto que participa.
Na verdade, sou padrinho do projeto chamado "Araketu de peito aberto". É um programa social que atende mil jovens, de 7 a 17 anos, em quatro núcleos: Periperi, Lobato, Feira de Santana e Jauá. Oferecemos aulas de futsal, handebol, basquete, natação e vôlei de praia. Hoje, meu trabalho é este, vivo disso. Tento passar a essas crianças o que vivi durante minha carreira. Além das aulas de natação que ministro, faço palestras também. A semente foi plantada. (Risos)
Leia entrevista completa na edição deste domingo, 05, do jornal A TARDE

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